quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Poema para a noite de natal

Escrevi um poema para o natal, e pensei em compartilhar por aqui, como contribuição para esse espírito de congraçamento e respeito que emana dessa época, e também para as reflexões que sempre são feitas nos momentos de virada de ano, quando a Terra está no mesmo lugar em que esteve há pouco menos de um ano. Sem mais delongas.


Poema para a noite de natal

Olharei atentamente o céu da noite de natal

Buscarei no escuro vasto o rastro da estrela guia

Ansiarei por percorrer seu percurso celestial

Se de fato ela brilhasse, por onde me levaria?


Transitou oculta em nuvens no Setor Comercial

Entre errantes ao relento na noite erradia

Ofuscou ante os letreiros do Conjunto Nacional

Que iluminam o coração contraditório de Brasília.


Desviou do abatedouro da zona rural

Com rubor ao ver o sangue que jorra da estrebaria

Congelou presa ao pinheiro plástico artificial

Se apagou quando notou a manjedoura estar vazia.



Leonardo Ortegal

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Vozes Vegetarianas na Literatura: Brian Aldiss

Brian Wilson Aldiss (1925 -) é um escritor inglês de ficção científica. Um de seus livros de contos mais conhecidos é “Superbrinquedos duram o verão todo”. Neste volume, encontramos os dois contos que serviram de base para "A.I. - Inteligência Artificial", o famoso filme de ficção científica de Steven Spielberg lançado em 2001, a partir de um projeto de Stanley Kubrick, sobre a possibilidade da criação de máquinas com sentimentos. Nesse mesmo volume de contos, podemos ler um interessante texto intitulado “Carne”. Nele, é apresentada a visão apocalíptica de uma realidade futura em que a exploração dos animais e a criação de rebanhos cada vez maiores acabaram por arruinar o equilíbrio ambiental do planeta, culminando com a proliferação de doenças entre os próprios animais, o que ocasionou a extinção de todo rebanho bovino e 99% do rebanho ovino.

O impacto ambiental da criação industrial de animais para consumo humano é fato. E esse fato é literariamente descrito nas seguintes passagens do texto;

(...) quarenta por cento da terra agriculturável do país estava sendo usada no plantio de forragem para os animais que eram abatidos e exportados. Uma outra porção das terras era empregada no plantio de soja – exportada para alimentar o gado do Primeiro Mundo. (...)

A imagem anódina que os Carnívoros apresentavam ao mundo mostrava o gado pastando placidamente em verdes campinas. Isso já se tornara uma fantasia muito antes do fim. A verdade é que aquelas criaturas sensíveis – não apenas o gado bovino, como também o ovino, os porcos e os galináceos – já não eram mais animais e sim meras unidades de produção de carne, destinadas a percorrer o trajeto até os estômagos glutões do Ocidente da maneira mais rápida e barata possível.

Para manter essas unidades produtoras de carne saudáveis em sua curta existência, elas eram abarrotadas de penicilina. De tal forma que os antibióticos foram ficando cada vez mais ineficazes em sua tarefa de curar uma população cada vez mais doente. População cujo hábito de se empanturrar de carne acelerou o ritmo das doenças.

A última linha do conto, diante de tal quadro, nem tão distante de nossa atual realidade, infelizmente não pode ser taxada de panfletária ou exagerada:

Carne Faz Mal a Você. Ela Fez Mal ao Planeta Todo.